
O prefeito Eduardo Siqueira (Podemos) foi alvo de buscas da 9ª fase da Operação Sisamnes, realizada pela Polícia Federal nesta sexta-feira (30). A investigação aponta que ele supostamente teria vazado informações sobre investigações e operações do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Durante coletiva em seu gabinete, em Palmas, o prefeito afirmou que sabe do que se trata a investigação, mas negou que tenha vazado informações sigilosas.
“Eu sou fonte de muita gente. Acho que vocês sabem o tanto que sei ou não sei, eu só sei o que dizem por aí. Eu não tenho nenhuma informação privilegiada. Estou aqui para responder em relação ao fato do suposto vazamento de informação perante o STJ. Eu não tenho fonte no STJ, não é meu papel. Eu indiquei um advogado, e esse advogado foi constituído e teve acesso aos autos”, afirmou.
Nesta sexta-feira (30) foram realizadas buscas na casa e gabinete de Eduardo, além da unidade penal de Palmas. Um advogado de Brasília (DF) também foi alvo de mandado. Conforme apurado pela GloboNews, o prefeito supostamente soube, antecipadamente, de uma operação realizada no Tocantins em 2024.
“Sei qual é a razão. Já antecipo que isso não envolve gestão de governos passados, mandato de senador, deputado, secretário, mandato de prefeito. Restringe-se a uma questão denominada, não é nem compra de sentença, não é o caso, mas de vazamento de informação. Eu até imagino quais são as razões”, afirmou.
Além desta suspeita sobre o vazamento de informações sigilosas ligadas a Eduardo, esta fase da operação Sisamnes no Tocantins também apura que um advogado preso na última fase, em março de 2025, estaria recebendo “privilégios ilegais” dentro da prisão.
O alvo em questão é o advogado Thiago Marcos Barbosa, sobrinho do governador Wanderlei Barbosa (Republicanos). Ele foi preso suspeito de vazar informações sobre operações judiciais, inclusive para o tio — que não é investigado na operação.
For solicitado um posicionamento sobre os supostos privilégios para a Secretaria de Cidadania e Justiça do Tocantins, e para o governador Wanderlei, mas não houve resposta até a publicação desta reportagem. A prefeitura de Palmas também foi procurada, mas não se manifestou.
Relação entre Eduardo e Thiago Barbosa
Durante coletiva, Eduardo Siqueira afirmou que conhece Thiago Barbosa e tem uma relação de “afeto”, e após saber da investigação contra ele, indicou um advogado que acessou o processo.
“[…] é meu advogado há mais de dez anos, em mais de dez processos. Quando decorreu a situação do Thiago, ele buscou, como nós sempre conversamos, e ele o constituíu, tá lá nos autos. E é isso. No mais, quem aqui nunca disse: há essa semana vai ter operação, estão investigando alguém, estão investigando a Assembleia. Isso tudo é dito por todo mundo. O que eu fiz foi fazer por uma pessoa que após partida da mãe, tenho um afeto muito grande. O [advogado] acessou o processo dele, teve acesso aos autos”, afirmou.
O advogado de Thiago Barbosa informou que não vai se posicicionar, pois não teve acesso integral ao processo.
Diálogos apontam envolvimento de Eduardo
A repórter Daniela Lima, da GloboNews, teve acesso a diálogos captados pela Polícia Federal envolvendo o prefeito de Palmas. Segundo publicado, Eduardo tinha conhecimento detalhado de um processo em curso no STJ e afirmava ter uma fonte dentro do Tribunal, que recebia pagamentos para repassar informações.
Um dos trechos indicados dá detalhes sobre uma investigação contra Thiago Marcos Barbosa, sobrinho do governador do Tocantins. O prefeito relata ter “um amigo em Brasília” e antecipa a realização de uma operação da PF no estado.
A PF chegou a pedir o afastamento de Eduardo Siqueira, mas o pedido foi negado, sendo decretado o recolhimento de seu passaporte e as buscas.
Entenda a investigação no Tocantins
A investigação envolvendo os políticos do Tocantins está inserida em um grande inquérito que corre no Supremo Tribunal Federal, sob relatoria do ministro Cristiano Zanin. A Operação Sisamnes investiga crimes de obstrução de justiça, violação do sigilo funcional, corrupção ativa e passiva.
Conforme a PF, foi identificada uma rede clandestina de monitoramento, comércio e repasse de informações sigilosas sobre o andamento de investigações sensíveis supervisionadas pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). O vazamento das informações acabava frustrando o andamento de operações policiais.