Planejar a aposentadoria é como escolher o motor de um carro antes de uma longa viagem. Escolher um motor fraco pode te deixar na mão no meio do caminho. Mas escolher um motor potente demais para o que você precisa pode consumir mais combustível e prejudicar o desempenho. Assim como na escolha do motor, no planejamento financeiro, definir a taxa de juros ideal é crucial.
À primeira vista, escolher uma taxa de juros alta parece uma ideia excelente. Afinal, com uma taxa elevada, você precisa acumular menos patrimônio antes de se aposentar, reduzindo o esforço de poupança. Mas essa estratégia pode se tornar uma armadilha perigosa. Se o rendimento planejado não se concretizar, a diferença necessária para garantir sua qualidade de vida será impossível de alcançar, porque, na aposentadoria, o tempo já não está ao seu lado.
Muitos investidores utilizam a Selic como base para planejar sua aposentadoria. Porém, esse é um erro mais comum do que parece. Vamos entender por quê:
O primeiro problema está em considerar a taxa nominal em vez da taxa real de juros. A taxa nominal, como a Selic, inclui a inflação. Mas a inflação apenas recompõe o poder de compra, ou seja, ela não representa um ganho real no seu patrimônio. Planejar com uma taxa nominal significa ignorar o impacto do aumento de preços no seu padrão de vida.
Por exemplo, imagine que você quer se aposentar com R$ 10 mil por mês e planeja usar uma Selic de 1% ao mês para calcular o necessário. Isso significa que você precisaria acumular R$ 1 milhão. Parece factível, certo? Agora, considere uma inflação de 5% ao ano. Em 15 anos, os itens do seu orçamento, como aluguel e alimentação, terão dobrado de preço. O que era suficiente para viver confortavelmente no início da aposentadoria já não será mais. Resultado: você terá que reduzir drasticamente seu padrão de vida.
O segundo erro é ignorar o impacto do imposto de renda sobre os rendimentos. O rendimento que você precisa considerar é o líquido, porque é com ele que você vai viver. No exemplo acima, supondo uma alíquota de 15%, o rendimento de 1% ao mês seria reduzido para 0,85%. Isso significa que, em vez de R$ 10 mil, você teria apenas R$ 8,5 mil para gastar.
Com essas armadilhas em mente, a pergunta permanece: qual taxa considerar para garantir segurança na aposentadoria?
Embora as taxas reais atuais estejam elevadas, é prudente adotar uma taxa conservadora de 4% ao ano como base. Essa abordagem reduz a possibilidade de erros e dá maior previsibilidade ao seu planejamento. Pode parecer pouco no curto prazo, mas essa prudência protege o seu bem-estar futuro, mesmo em cenários desafiadores.
Lembre-se: o planejamento da aposentadoria não é uma questão de otimismo ou pessimismo, mas de realismo. Ajuste suas expectativas à realidade econômica e às suas necessidades. Afinal, errar na escolha da taxa de juros hoje pode significar um padrão de vida comprometido amanhã.
Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.
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