
Posou de vítima, como sempre, e disse ser perseguido pelas supostas virtudes, que irritou poderosos e até parte da imprensa, que o retaliou pelo corte nos repasses de verbas oficiais. Não foi por maldade, jurou Bolsonaro. Foi o teto de gastos.
O ex-presidente negou (quase) todas as acusações apontadas na denúncia da PGR. Não, ele não tramou contra as eleições, não discutiu golpe de Estado, não editou minuta golpista, não defendeu prisão de ministros do Supremo, não ouviu ninguém colocar as tropas à disposição, nem ouviu ameaça de voz de prisão de qualquer general – já que nenhum absurdo foi colocado à mesa.
No máximo ele criticou as urnas eletrônicas. Até aí, até o Brizola, lembrou. Então o que explica tantos encontros com os chefes das Forças Armadas desde a derrota nas urnas? “Um vazio que o senhor nem imagina”, explicou Bolsonaro.
O vácuo existencial, após a derrota nas urnas, era tamanho que ele perdeu até a disposição de cumprir o aviso prévio como presidente. Havia ainda dois meses no cargo, e ele gastou os dias preenchendo o vazio em rodas de conversa (informais, frisou) com os poucos amigos que não se afastaram dele – por coincidência, todos fardados.
Foi a eles que Bolsonaro exibiu alguns “considerandos” ao fim da disputa eleitoral, conforme admitiu ao Supremo. Era tudo o que a PGR queria. Ao longo do dia, cada réu se desvencilhou das acusações como pôde.
Almir Garnier disse que não cabia a ele, ex-chefe da Marinha, discutir rumos políticos com o presidente. Anderson Torres, ex-ministro da Justiça, alegou que sabia escrever e a minuta golpista atribuída a ele era cheia de erros de português. Seu interesse, jurou o ex-chefe da polícia do Distrito Federal , era passear na Disney no fim do ano, e os atos golpistas de 8 de janeiro não só ferraram com ele, que foi preso, como também os filhos, que queriam ver o Mickey.