Muitos paraenses tiveram a infância marcada pelo programa Catalendas, lançado em 1999 pela TV Cultura Pará. Durante 13 temporadas, dois bonecos contaram histórias fantásticas. Por trás do Preguinho, um macaco curioso, estava o artista David Matos, cocriador da atração.
“Era como se nessa fase da vida ele tivesse a oportunidade de fazer um resgate de brincar com todos os bonecos que faltaram na sua infância”, diz a esposa, Aline Chaves, 47.
David Matos era o nome artístico de Luiz Evandro da Costa Passos, que nasceu na Tijuca, Rio de Janeiro, em 1963. Desde pequeno, era encantado por histórias. Escutava muitas do avô Nico e com a avó Rosa passava madrugadas assistindo a clássicos na TV, como “Cidadão Kane” e “O Mágico de Oz”. O garoto amava trilhas sonoras e acompanhava até o fim dos créditos.
Cresceu na Rocinha, em uma época com muitas árvores frutíferas e espaços para brincar. Morou também em Jacarepaguá, onde na juventude jogava xadrez e botão.
Começou nas artes pela dança, escrita e fotografia. Foi bailarino do clássico ao jazz. Escrevia por ser um leitor voraz. Entre seus autores de cabeceira estavam William Shakespeare, Agatha Christie e Machado de Assis. Na fotografia tinha como referências Henri Cartier-Bresson e Sebastião Salgado.
Desdobrou-se entre estudos, empregos e atividades artísticas. Trabalhou em metalúrgica e foi instrutor de autoescola.
Ainda no Rio, atuou como ator, dançarino e escritor em movimentos artísticos. Em 1991, mudou-se para Belém, onde começou no teatro de bonecos.
Iluminava, escrevia, atuava e dirigia espetáculos. Fundou a In Bust Companhia de Animação e, junto com Paulo Ricardo Nascimento e Jeff Cecim, apresentava-se em bares da cidade. Sua voz está em uma das primeiras animações paraenses, o curta “A Onda, Festa da Pororoca”, de Cássio Tavernard.
Durante 20 anos, trabalhou na Fundação Curro Velho, hoje Fundação Cultural do Estado do Pará.
Com o coletivo Miasombra passou a fazer conexões artísticas entre Belém, Rio e Goiânia, além de Portugal.
Era torcedor do Botafogo e devoto de são Jorge. Tinha prazer em cozinhar, principalmente ao receber amigos em casa. Seus sucessos eram o feijão e as rabanadas no final de ano. Amava também suas gatas, as quais considerava filhas.
Após uma doença neurodegenerativa, com pouca assistência no sistema público de saúde, morreu no dia 15 de novembro, aos 63 anos.
Deixa a mulher, Aline, 47, a filha, Aidê, 27, a mãe, Alenir, 78, e as irmãs Tina, 61, e Kátia, 53. Também ficam as gatas Cat Irina, Doralice e Lua Banka.
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