Montadoras chinesas e rivais estrangeiras estão lançando híbridos de longo alcance cada vez mais avançados para atender à crescente demanda no maior mercado automotivo do mundo.
Ao contrário de muitos outros grandes mercados, a China trata carros elétricos e híbridos como um setor de “veículos de nova energia”, onde as marcas competem para oferecer aos consumidores uma variedade de opções eletrificadas com maior autonomia.
No salão do automóvel de Xangai desta semana, por exemplo, a Zeekr, unidade da Geely, revelou o 9X, um grande utilitário esportivo (SUV) híbrido plug-in com autonomia de 400 km em modo exclusivamente elétrico antes que seu motor a gasolina entre em ação.
Essa autonomia é quase tão longa quanto a de muitos veículos totalmente elétricos e muito maior do que a dos híbridos plug-in típicos nos Estados Unidos, Europa e outros mercados.
As montadoras chinesas também desenvolveram um negócio próspero nos chamados veículos elétricos de longo alcance (EREVs na sigla em inglês), que têm pequenos motores a gasolina que servem apenas como gerador para estender o alcance de suas grandes baterias.
Tanto os EREVs quanto os híbridos plug-in cresceram mais rápido do que os elétricos puros no mercado chinês no ano passado, elevando a participação de todo o segmento eletrificado para cerca de 50% das vendas totais de veículos do país, de acordo com dados da Associação Chinesa de Automóveis de Passageiros.
As vendas de EREVs aumentaram 79%, para 1,2 milhão de veículos, e os emplacamentos de híbridos plug-in cresceram 76%, para 3,4 milhões, enquanto as vendas de elétricos cresceram 23%, para 6,3 milhões de unidades.
Os modelos totalmente elétricos cresceram mais rápido do que ambas as variedades de híbridos no primeiro trimestre deste ano e ainda lideram o setor de novas energias da China. Mas o boom dos híbridos no país asiático e no mundo fez com que montadoras mais tradicionais apostassem em modelos a gasolina e elétricos, após se focarem exclusivamente na expansão da oferta de elétricos.
A Volkswagen planeja uma nova plataforma para veículos totalmente elétricos e EREVs como parte de um esforço para reverter a queda nas vendas na China, onde todas as montadoras estrangeiras têm enfrentado dificuldades. Ralf Brandstaetter, membro do conselho da VW, afirmou que a flexibilidade do sistema de transmissão foi fundamental para o esforço da montadora alemã de “encontrar sua vantagem”.
O presidente-executivo da Mercedes-Benz, Ola Kaellenius, chamou os híbridos de “definitivamente uma tendência na China” ao se dirigir a jornalistas no salão de Xangai, prevendo que eles “coexistirão com veículos elétricos a bateria por um período de tempo mais longo”.
TECNOLOGIA DE TRANSIÇÃO?
Algumas montadoras, principalmente a Tesla, rejeitaram os híbridos, os definindo como uma tecnologia de transição que apenas dificulta a mudança para veículos elétricos, necessária para desacelerar as mudanças climáticas. Muitos ambientalistas americanos e europeus endossam essa visão.
Alguns fabricantes chineses de carros elétricos também estão céticos quanto à persistência dos híbridos, principalmente na China, onde o governo e a indústria construíram uma enorme rede de carregamento de veículos elétricos.
Mas muitas montadoras chinesas estão ansiosas para dar aos compradores o que eles desejam em meio a uma guerra de preços que continua a desafiar sua lucratividade. Os híbridos plug-in também oferecem uma maneira de contornar barreiras comerciais em seu principal alvo de expansão, a Europa, que impôs tarifas sobre veículos elétricos chineses.
A Lynk & Co, outra empresa da Geely, anunciou em fevereiro que lançará um SUV híbrido plug-in, o 08, em junho, com uma autonomia elétrica de 200 km, a maior disponível na Europa.
Felix Kuhnert, analista automotivo da consultoria PwC Alemanha, chamou a indústria chinesa de “tecnologicamente menos dogmática” do que alguns concorrentes globais, adotando a abordagem de que “se o cliente quer mais autonomia em seu carro elétrico, então ele deve tê-lo”.
Folha Mercado
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Isso descreve bem a posição do fabricante chinês de veículos elétricos Leapmotor, que lançou quatro modelos EREV, embora seu presidente-executivo, Zhu Jiangming, tenha dito que a autonomia típica de um veículo elétrico, de cerca de 500 quilômetros, permite que os consumidores “comprem um carro elétrico sem problemas”.
A empresa vê os EREVs como uma opção para consumidores dispostos a pagar mais por ainda mais autonomia. “Achamos que é só para carros de luxo”, um segmento em que os consumidores não hesitam em pagar 20 mil iuans (US$ 2.744) a mais para aliviar a ansiedade pela autonomia.
MAIS HÍBRIDOS CHEGANDO
De acordo com dados da empresa de pesquisa de mercado Jato Dynamics, as montadoras na China lançaram 16 novos EREVs e 37 novos híbridos plug-in em 2024, em comparação com 32 novos modelos totalmente elétricos.
Previsões fornecidas à Reuters por uma grande montadora antecipam que os EREVs e os híbridos plug-in juntos representarão cerca de 35% das vendas na China, o maior mercado automotivo do mundo, em comparação com cerca de 45% dos veículos elétricos.
O setor atraiu investimentos do gigante chinês de baterias CATL, que em outubro lançou sua primeira bateria dedicada a híbridos de longo alcance, com autonomia de 400 km. A CATL afirmou que a bateria é usada por várias marcas chinesas de veículos elétricos, incluindo a Li Auto, e será instalada em quase 30 modelos de gigantes da indústria, incluindo Geely e Chery .
Bo Yu, especialista em mercado chinês da Jato Dynamics, prevê que as montadoras do país continuarão investindo e inovando no segmento híbrido no futuro próximo. “Vamos ver mais deles”, disse ela.