
No último sábado, 14 de junho, a Ponte da Aldeia, localizada na BR-010, entre os municípios de Goiatins e Barra do Ouro (TO), foi palco de uma manifestação pacífica marcada pela dor, emoção e clamor por justiça. Conhecida tristemente como “Ponte da Morte”, o local já foi cenário de múltiplas tragédias, ao todo, 6 vítimas fatais e, até hoje, a obra da nova ponte permanece inacabada — um descaso que segue custando vidas.
O ato teve início com um momento de fé e reflexão conduzido pelo Padre João Barbosa e pelo Pastor Cícero, ambos de Goiatins. Em sua fala, o padre fez um apelo tocante aos representantes públicos, lamentando as perdas e pedindo que “Jesus toque os corações dos políticos, para que providências sejam finalmente tomadas”.

Com a presença de familiares das vítimas, muitos não conseguiram conter a emoção. Um dos relatos mais comoventes veio de Larissa, filha de Laury Camera, que faleceu no local:
“Hoje meu coração grita e minha voz se levanta, por um luto que jamais será apagado ou amenizado. Luto pela imagem de um trabalhador, honesto, um excelente pai… Ele era a força da nossa casa, o conselho e a calmaria. Toda sexta-feira esperávamos por ele, mas naquela, ele não chegou. A dor maior é saber que essa morte poderia ter sido evitada. Aquele trecho reúne tudo que não deveria existir em uma rodovia federal: curva perigosa em declive, desnível, estrada de terra, ausência de sinalização e uma ponte sem proteção lateral.”

A manifestação foi um ato de união e resistência, com presença da comunidade de Barra do Ouro, liderados pela vereadora Aurélia, e de diversas lideranças de Goiatins. O evento teve apoio da Polícia Militar, garantindo a segurança dos presentes.
Kristhian Resplandes, uma das vozes da manifestação, fez um alerta direto e crítico:
“Várias reivindicações já foram feitas ao DNIT, por meio de deputados estaduais e federais, e até agora o silêncio impera. Recentemente, a ponte entre Estreito e Aguiarnópolis caiu, e só após 17 mortes é que políticos se fizeram presentes para prestar condolências. Já era tarde demais. Precisamos evitar outra tragédia.”

Outro organizador, Edimilson, também cobrou publicamente:
“Governador, será que o senhor nunca recebeu um pedido de socorro daqui? Nós queremos uma ponte que UNE, e não que MATA. Nossos filhos passam por aqui todos os dias!”

Embora a responsabilidade da obra pertença ao governo federal, os manifestantes cobram veementemente que os representantes estaduais levantem a voz e se somem à causa. A omissão e o silêncio dos líderes locais foram duramente criticados.
Carmelita Figueiredo, em nome de sua sobrinha Anielly — também vítima fatal da ponte — desabafou:
“Anielly viveu 26 anos com uma intensidade que muitos não vivem em uma vida inteira. Ela era minha sobrinha, mas, acima de tudo, era a filha que nunca tive. Essa dor só entende quem sente.”
Clores Maria, moradora de Goiatins, deixou um apelo materno angustiante:
“Cada vez que minhas filhas viajam por esse trecho, eu passo horas em desespero, com medo, angústia e sentimento. Eu não quero mais vítimas. Peço que os governantes olhem com carinho para o nosso clamor.”

A manifestação foi encerrada com um coro forte e uníssono:
“CHEGA DE ESPERAR, PONTE NOVA JÁ!”
A comunidade agora aguarda resposta das autoridades competentes, exigindo não apenas promessas, mas ações reais e urgentes: a pavimentação do trecho e a construção de uma nova ponte, segura e digna. O apelo é simples e humano — que mais vidas não se percam por negligência.
Texto: Kristhian Resplandes/Especial para a Gazeta do Cerrado