Janja pode viajar para onde quiser e fazer tudo o que gosta, desde que retire da própria bolsa a verba que paga suas despesas. Quando voar nas asas do contribuinte, só pode estar onde estiver o interesse público. De resto, precisa prestar contas. Hoje, o custo e a serventia dos deslocamentos de Janja, sempre seguida por séquitos de auxiliares e seguranças, têm a transparência de um copo de requeijão.
A Constituição brasileira não prevê em nenhum dos seus artigos atribuição para os cônjuges de presidentes. No início do governo, Lula cogitou criar um cargo para Janja. Foi desaconselhado. A nomeação deixaria a mulher do presidente ao alcance dos requerimentos de convocação da oposição no Congresso. Lula deveria reconsiderar sua decisão, pois Janja viaja ao exterior com desenvoltura de ministra.
Embarcou sete dias antes do marido para o Japão, junto com equipe precursora do Planalto. Para quê? No mês passado, já havia testemunhado um debate sobre a fome do mundo, dessa vez em Roma. Acompanhou o ministro petista do Bolsa Família, Wellington Dias. Qual foi a sua contribuição?
No ano passado, Janja foi duas vezes a Nova York. Numa, embarcou dias antes de Lula para participar de um painel sobre fome na Universidade de Columbia. Noutra, foi testemunhar um debate na ONU sobre a situação da mulher. Esteve no Qatar para um evento sobre educação. Representou o marido na cerimônia de abertura das Olimpíadas.
Poder, Janja já tem. Só falta o cargo. No final do ano passado, numa entrevista concedida às margens do encontro do G20, ela soou explícita: “Acho que quando eu ligo para um ministro, talvez não seja só a Janja falando. Talvez, por exemplo, na questão da cocção limpa, talvez eu esteja sendo a voz de milhares de mulheres. É isso que as pessoas precisam entender”.
Antes da posse do marido, Janja avisara que iria “ressignificar” o papel de primeira-dama. Pode imprimir à sua passagem por Brasília o significado que quiser, desde que leve em conta um detalhe: a Constituição brasileira não concede poder nem significado a ninguém apenas por ser mulher de presidente da República.