Com menos de um mês da aplicação da lei, professores e diretores já enxergam benefícios com a proibição. O sentimento geral é de tranquilidade e de melhora na produtividade escolar. Eloá Schuler, que dá aulas para adolescentes no Ensino Médio, brinca que sente ter voltado no tempo. “Voltaram os problemas dos anos 2000, mais conversa em sala de aula, voltei a até a ver baralho, alunos jogando ‘Stop’ [adedonha], sabe?”, brinca.
Para a professora, a lei é um respaldo para o que os docentes tentavam aplicar em sala de aula. “Quando não era algo nacional, mesmo com políticas nas escolas, era difícil de controlar. Antes a gente devolvia no fim da aula, mas era um estresse para tirar o aparelho e logo depois devolvia, não tinha uma punição”, comenta.
Em pouco menos de um mês desde o início das aulas, Eloá afirma não ter visto nenhum celular em sala de aula. “É positivo que o aluno saiba do transtorno que ele pode ter ao levar o celular. Os pais que pegam, então o aluno tem que se virar, os pais também já ficam sabendo da indisciplina”, avalia.
Elvira Pannozzo, diretora e mantenedora do Colégio Vertex, explica que a adaptação foi mais simples, já que tinha implementado regras de restrição ao uso do celular na escola. “Eles só podiam usar no intervalo, mas o número de alunos pegando o celular era grande. Agora isso mudou”, conta. “Eles interagem uns com os outros, participam dos jogos no pátio do colégio, voltou a ter um recreio animado e barulhento, que é saudável”, avalia a diretora.
Todos conversam, dão risada, vibram com os amigos jogando pingue-pongue e pebolim. Essa volta do cenário é saudável, fortalecendo os laços de amizade e socialização. É o que falta no jovem hoje em dia- Elvira Pannozzo.
Tanto ela quanto Eloá se surpreenderam com a adesão rápida dos alunos à regra. Elvira atribui isso à divulgação da lei antes do início do ano letivo. “Eles entenderam que isso seria em todas as escolas. Por aqui fizemos reuniões, mandamos comunicados, foi tranquilo. Já sabiam que não teria chance de usar”, diz Elvira.
Na rede estadual, a sensação de alívio é semelhante. O dirigente regional de ensino Leste 3, Eric Vellone Coló, cita que os professores reportam que estão conseguindo dar aulas mais leves. “Não ficam mais a todo tempo pedindo atenção, cobrando os alunos para pararem de usar o celular. Vemos menor indisciplina e mais atenção”, afirma.
Apesar de não poder indicar se houve uma melhora nas notas, já que o ano letivo ainda está começando, Eric cita que a qualidade das aulas já aumentou com as leis. “A interação, a frequência e socialização dos meninos está em outro patamar”, elogia Eric.
São Paulo e outras escolas já haviam restringido o uso de telefone em sala de aula
Desde fevereiro de 2024, o wi-fi para alunos das escolas estaduais de São Paulo têm bloqueio de aplicativos de redes sociais. Entre os programas que não poderiam ser acessados estavam aplicativos de streaming, TikTok, Facebook, Kwai e Instagram.
A medida, na época, já fazia diferença na vida dos alunos e docentes das unidades estaduais, como afirma o dirigente Eric Vellone Coló. “O estudante já tinha acesso a dispositivos concedidos pela rede estadual, então o uso do celular já era desencorajado. Do ponto de vista pedagógico, isso já aumentou a atenção e a colaboração entre os estudantes, que ficaram mais participativos”, diz.
Antes da lei federal, São Paulo sancionou a lei que proíbe o uso de celulares por alunos de escolas públicas e privadas no estado. A determinação também entrou em vigor no ano letivo de 2025. O objetivo dela é semelhante à lei federal, com foco na qualidade de aprendizado.
“Tentamos mostrar que o aluno não precisa levar o celular para a escola. Mostramos que damos toda uma infraestrutura para, no final, ficar vendo vídeo no Instagram. Damos esse choque para ele aproveitar realmente as aulas”, conta.
Na Camino School, escola onde Letícia Lyle é diretora, a proibição já foi implementada em 2022. Ela conta que a adesão foi difícil, mas logo os benefícios apareceram em sala de aula. “Eles ficavam ansiosos porque queriam se comunicar com os pais, estarem conectados, ficavam receosos de fazer uma atividade fora da escola sem celular. Mas isso durou pouco tempo”, conta.
Lyle relata que na época chegou a perder alunos para a proibição. “Eles questionavam, dizendo que outras escolas deixavam. Perdemos alunos que tentavam burlar as regras. Agora todas fazem, então devemos ver uma adaptação de todos”, afirma.
Ela relata que os estudantes logo começaram a melhorar a socialização, as brincadeiras e focaram em outras atividades. “Começamos a fazer jogos nos recreios, trouxemos também uma profissional da equipe que organizava atividades todos os intervalos, criamos atividades para todos interagirem”, diz.
Colaboração com as famílias é essencial para lei ser bem implementada
Eric Colló cita que o mais importante para que a lei desse certo foi a participação ativa das famílias em entender a necessidade da proibição. “Houve um diálogo produtivo, as famílias compraram a ideia”, pontua.
A escola que imaginou que teria um desgaste, muito mais da metade dos estudantes chega sem o celular na escola. Isso é um ganho pedagógico – Eric Colló.
O dirigente pontua que o corpo docente chegou a imaginar em um desgaste em ter que reforçar a regra, mas a adesão surpreendeu. “Mais da metade dos estudantes já chegam sem os celulares. É um ganho muito grande e o pedagógico será sensível”, avalia.
Elvira Pannozzo, do Colégio Vertex, cita que o entendimento dos alunos com as regras ocorreu com auxílio dos pais. “Fizemos reuniões com os pais, explicou, então foi bem tranquilo. Todos já entenderam e auxiliaram na adesão desde o primeiro dia de aula. Isso facilitou”, pontua.
As escolas também investem no auxílio psicológico para aqueles alunos que se sentem mal ao se desconectarem. No caso da rede estadual, Eric Colló explica que caso identifiquem sinais de alerta nos alunos, a rede protetiva é acionada. “Falamos com os pais, até o Conselho Tutelar e encaminhamos para a atenção psicossocial. Mas acreditamos que teremos casos mínimos”, afirma.