Se você tivesse que escolher entre investir em 65% do CDI ou na variação cambial do dólar, qual seria a melhor opção? Muita gente, especialmente após uma forte alta da moeda americana, apontaria sem hesitar para o dólar. Afinal, quando algo sobe muito, parece óbvio que sempre foi uma grande escolha. Mas será que essa percepção se sustenta quando olhamos para prazos mais longos?
Vamos iniciar com um teste. Em qual ou quais destes períodos o dólar foi melhor que 65% do CDI?
a) 3 anos
b) 10 anos
c) 20 anos
d) 30 anos
A resposta pode surpreender. Se analisarmos os últimos 3, 10, 20 e 30 anos, o dólar só superou 65% do CDI em um desses períodos. Nos outros três, o CDI não apenas entregou retornos superiores, como proporcionou uma experiência de investimento muito mais estável e previsível.
O motivo? A volatilidade destrói retornos mais do que parece.
O dólar é como uma montanha-russa. Em alguns momentos, dispara e parece ser o melhor investimento do mundo. Mas em outros, despenca sem aviso. Já o CDI é como uma escada rolante: pode não parecer emocionante, mas seu movimento é contínuo e previsível. E, no longo prazo, essa previsibilidade faz toda a diferença.
O problema da montanha-russa é que, mesmo que ela termine no topo, o percurso cheio de altos e baixos reduz o retorno final. Imagine um ativo que sobe 20% em um ano e cai 10% no seguinte, repetindo esse padrão por 10 anos. O retorno médio anual parece ótimo: 5% ao ano. Mas, na realidade, o retorno efetivo, aquele que de fato chega ao bolso do investidor, é de apenas 2,6% ao ano.
A história do dólar no Brasil ilustra isso bem. Em 2002, com a incerteza das eleições presidenciais, a moeda disparou 53% em um único ano. Quem comprou dólares acreditando que aquilo continuaria viu a cotação cair nos anos seguintes, acumulando quedas de 18% em 2003 e 8% em 2004. Já quem investiu em 65% do CDI nesse período acumulou retornos superiores sem grandes sustos.
O dólar tem uma volatilidade de 15,6% ao ano, maior que a do S&P 500. O CDI, por outro lado, nunca cai e sempre sobe. Isso significa que a alta volatilidade do dólar faz com que o retorno realizado seja muito menor do que o retorno médio sugere.
No teste, se você escolheu 10 anos, acertou. Em qualquer outro período, o CDI superou o dólar, e não foi por pouco. O retorno acumulado de 65% do CDI foi 113%, 77%, 159% e 228% maior do que o do dólar em 3, 10, 20 e 30 anos, respectivamente.
Mas qual o motivo de falarmos de 65% do CDI se não investimos buscando isso?
Quando se investe internacionalmente, há duas opções: investir com exposição cambial ou protegido da variação do câmbio, o chamado hedge. Quando o hedge é feito, o investimento internacional adiciona o diferencial de taxa de juros entre Brasil e EUA, que historicamente fica entre 60% e 70% do CDI.
Portanto, como 65% do CDI tem consistentemente batido a variação cambial, principalmente em momentos em que o CDI fica muito elevado como agora, é importante avaliar com cuidado a decisão pela exposição cambial nos investimentos internacionais.
O gráfico acima apresenta a evolução do índice Nasdaq com exposição cambial em dólar e hedgeado desde o início do plano Real. Perceba a diferença não apenas de retorno, mas de oscilação. Uma menor oscilação leva a uma melhor experiência de investimento.
Se a ideia é investir fora para proteger o patrimônio, é importante entender que ter exposição cambial pode ser mais arriscado do que parece. Em períodos curtos, o dólar pode parecer um grande negócio, mas no longo prazo, a montanha-russa pode ser traiçoeira.
No fim, a escolha não é apenas entre o dólar e o CDI, mas entre apostar no imprevisível ou confiar no que historicamente funciona. Você prefere arriscar o passeio na montanha-russa ou seguir subindo na escada rolante?
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