Israel voltou a lançar pesados ataques contra o Hamas na Faixa de Gaza, pondo fim a um cessar-fogo que dera algum alívio aos palestinos e permitiu a troca de reféns por prisioneiros.
Ambos os lados imputam um ao outro a responsabilidade pelo rompimento da trégua, mas a interpretação que me parece mais verossímil é a de que o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, jamais teve a intenção de cumprir a segunda fase do acordo, pela qual Israel teria de retirar todas as suas forças de Gaza.
Netanyahu não faz isso porque tal passo seria muito malvisto pelos partidos de extrema direita que dão sustentação a seu governo. Poderia até levar ao rompimento da coalizão, o que lhe custaria o cargo de premiê. E, sem esse posto, os processos de corrupção aos quais responde andariam bem mais depressa, com possibilidade de pô-lo na cadeia.
A imprensa tem destacado os custos humanos e materiais deste conflito, de modo que eu gostaria de salientar a perda de esperança. A guerra levou tanto israelenses como palestinos a um ultraceticismo em relação à possibilidade de paz na região.
Pesquisa recente do Jewish People Policy Institute mostra que 85% dos judeus israelenses não veem chance de acordo com os palestinos num futuro próximo. No início dos anos 2000, mais de 70% dos israelenses apoiavam a solução de dois Estados e a consideravam viável.
Em meio à guerra, não é tão fácil descobrir o que pensam os palestinos de Gaza, mas a equipe de Scott Atran foi a campo em janeiro e fez uma pesquisa cujos resultados saíram na Foreign Affairs.
O apoio dos habitantes de Gaza ao Hamas caiu de mais de 50% no início da guerra para 20% agora, mas outros grupos palestinos têm suporte ainda menor.
Em relação ao futuro, o apoio à solução de dois Estados, amplamente majoritário antes da guerra, caiu para 48% agora. A aposta numa saída militar, que incluiria a destruição de Israel, passou de 20% para 47%.
O conflito coloca israelenses e palestinos em posições que transitam do niilismo ao delírio.
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