Uma ala do governo Lula (PT) passou a defender o nome da deputada federal Tabata Amaral (PSB) para o Ministério de Ciência e Tecnologia, mas o plano enfrenta entraves dentro do PT e do próprio PSB.
A reforma ministerial, cujo objetivo é abrir mais espaço para aliados do centrão, é esperada para as próximas semanas, com projeções otimistas de conclusão antes do Carnaval.
A pasta para a qual Tabata é cogitada por uma ala do governo está hoje sob o comando de Luciana Santos, do PC do B, que deve ir para o Ministério das Mulheres.
A ideia ainda é incipiente e não foi tratada com o presidente, segundo relatos, mas já anima o entorno da parlamentar.
Oficialmente, a deputada diz não ter sido sondada ou convidada para assumir o cargo, mas tampouco descartou essa possibilidade.
Aliados pontuam ainda a relação dela com a pasta, uma vez que sua trajetória foi mudada após Olimpíada de Matemática, promovida pelo ministério de Eduardo Campos, então ministro de Lula.
Quem defende a entrada de Tabata no governo cita o empenho da parlamentar com pautas relacionadas a educação e pesquisa, além do fato de ela ser uma jovem mulher com destaque na política, o que ajudaria a trazer essas características para o primeiro escalão.
Da parte do PT, contudo, o nome de Tabata esbarra em resistência. Ela é criticada na esquerda desde a reforma da Previdência, quando votou favorável à proposta.
Além disso, auxiliares de Lula se queixam de que ela não teria feito defesa enfática do presidente durante a campanha à Prefeitura de São Paulo do ano passado, quando ele foi alvo tanto de Ricardo Nunes (MDB) quanto de Pablo Marçal (PRTB).
O nome apoiado pelo governo era o de Guilherme Boulos (PSOL), derrotado no segundo turno contra Nunes. Tabata declarou apoio a Boulos, mas não quis participar de eventos de campanha.
Para esses interlocutores do presidente, a entrada no governo da parlamentar não resultaria necessariamente em ampliação do campo político, da mesma forma que sua declaração de apoio a Boulos não foi convertida em voto em São Paulo.
O segundo entrave para a entrada de Tabata no governo é uma questão com o próprio PSB. A parlamentar assumiria o cargo para compensar a saída de um ministro do partido, provavelmente Geraldo Alckmin do MDIC (Desenvolvimento, Indústria e Comércio).
Aliados do presidente recomendam cuidado com o vice-presidente, para que ele não seja exposto no debate sobre a reforma — o que comprometeria seu capital político.
A ideia é manter a proporcionalidade de dois ministros da sigla, que já chegou a ter três pastas na Esplanada. O outro posto é ocupado por Márcio França, mas num ministério com menos recursos, Empreendedorismo.
O MDIC é mais interessante do ponto de vista de negociação com os outros partidos que estariam se queixando de estarem subrepresentados no primeiro escalão, como o PSD.
Tanto entre auxiliares de Lula quanto entre integrantes do PSB, a saída de Alckmin da pasta é vista com ressalvas. Ele desenvolveu interesse pelo tema e não demonstra interesse em sair, e seus aliados veem como improvável isso.
Sua performance tem sido elogiada por interlocutores de Lula. Sua gestão lançou o NIB (Nova Indústria Brasil), com propostas e metas de fomentar as diferentes indústrias brasileiras.
No partido, a permanência de Alckmin é a prioridade número um, tanto no ministério quanto na chapa de Lula em 2026. O prefeito do Recife, João Campos, que assumirá no próximo mês o PSB, esteve com o chefe do Executivo em janeiro e esta foi a principal demanda. Segundo aliados, a entrada de Tabata na Esplanada não entrou na conversa.
João Campos é namorado da deputada, e aliados dizem que ele não traria uma demanda dessa no momento em que assume o partido.
Integrantes do PSB no Congresso defendem a indicação de Tabata, contanto que isso não signifique a saída de um dos outros ministros.
O deputado Felipe Carreras (PSB-PE), por exemplo, diz que a entrada da colega de bancada seria “recomposição de um equívoco que o PT cometeu com o PSB”, mas rechaça a possibilidade da saída de Alckmin.
“Na minha visão, não houve muita reciprocidade e reconhecimento por parte do PT do que o PSB fez para pavimentar a vitória apertada do presidente em 2022. Tabata pode emprestar dinamismo, jovialidade para ajudar ao governo, dar um dinâmica diferente”, disse.
“Não acho, em hipótese alguma, que seja ventilada a saída [de Alckmin]. Considero um profundo desrespeito”, complementou.
Segundo aliados da parlamentar, na transição do governo em 2022, ela já havia sido sondada para compor o governo, mas preferiu continuar na Câmara para seguir o projeto de concorrer à Prefeitura de São Paulo em 2024.
Caso seja aprovada proposta que reduz a idade mínima para concorrer ao Senado, hoje de 35 anos, ela pretende disputar uma vaga na Casa no ano que vem. A parlamentar tem 31 anos. Ainda que consiga se eleger para o cargo, não descarta concorrer novamente à prefeitura em 2028.
Lula determinou que o ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais) se reunisse com os presidentes de partido da base para recolher as demandas. Além disso, está fazendo um mapa de entregas de votos de cada legenda no Congresso.
De acordo com auxiliares do presidente, ele começará pelos ministérios do PT. Depois, conversará ele próprio com os dirigentes partidários e líderes para avaliar novas mudanças.
Com as informações em mãos, analisará o desempenho da sua equipe e projetos futuros, como as candidaturas de 2026.